Artes visuais e inclusão: projeto leva ensino de artes para jovens com Síndrome de Down

Para contribuir na formação de pessoas com Síndrome de Down, Déficit Intelectual e colaborar com a saúde mental de idosos, uma iniciativa vem realizando oficinas de artes visuais em instituições de educação inclusiva da cidade de João Pessoa. Trata-se do projeto Artes Visuais & Inclusão, realizado em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), através do Laboratório de Artes Visuais Aplicadas e Integrativas (LAVAIS).

Nascida em 2014, a ação atende o Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha, a Vila Vicentina Júlia Freire e, em 2015, a associação Ame Down foi incorporada ao projeto a fim de atender jovens com Síndrome de Down. Na época em que o projeto começou, a associação ainda não tinha uma sede e por isso o trabalho teve início dentro da UFPB. Os alunos têm aulas quinzenais de artes, no laboratório de pintura do Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) da Instituição. Atualmente, 11 jovens participam do projeto e as crianças mais novas que chegam à associação já demonstram o desejo de participar das atividades.

O dom de transformar

A arte tem o dom da transformação. De acordo com depoimentos de mães da associação Ame Down, os filhos ficaram mais tranquilos, atenciosos e concentrados desde que começaram as oficinas. Segundo elas, seus filhos estão se sentindo valorizados e com a autoestima elevada. Cada atividade é feita de forma lúdica e coletiva. Por isso, há uma melhora na relação intra e interpessoal dos participantes. Germana Rocha é mãe de Emanuelle Rocha, ou Manu como os seus amigos a chamam. 

Sentindo a necessidade de os jovens da Ame Down fazerem arteterapia, ela convidou uma série de artistas plásticos para realizarem oficinas de arte com os participantes da associação. Dentre os artistas estava o Prof. Dr. Robson Xavier da Costa, que se disponibilizou em não apenas fazer uma oficina, mas sim um trabalho regular com esses jovens. E assim começou a parceria entre a Ame Down e o projeto.

Artes visuais e inclusão

Segundo Germana, Manu já gostava de pintar, mas após ela ter contato com outras técnicas de pintura em papéis de grande escala ela consegue se soltar mais, se sente livre para criar. “É como se ela soltasse algo que está dentro dela. Já teve oficina dela pintar os braços, depois de tirarmos o papel dela porque a aula tinha acabado. Ou seja, é uma necessidade que ela sente da pintura".

Germana e sua filha Manu. Foto: Chrisley Wellen.

Para Mauriceia, mãe de Mylena e Helany, as filhas ficam ansiosas para a chegada de cada “aula de artes”, como elas costumam chamar, e já apresentam melhoras ao participar da atividade. “Elas melhoraram bastante no desempenho da pintura e no comportamento cognitivo”.

Mylena, Mauricéia e Helany. Foto: Chrisley Wellen.

A contribuição da arte no desenvolvimento dos jovens atendidos também é confirmada por Maria das Graças, mãe de Cybelli. “Tem ajudado muito Cybelli com relação à coordenação motora fina e à socialização. A cada oficina é um aprendizado e uma descoberta dos nossos filhos”, conta.

Cybelli e sua mãe Maria das Graças. Foto: Chrisley Wellen.

Maria Gorete é mãe de Matheus. As telas pintadas por ele fizeram parte da primeira exposição realizada pelo projeto. Um momento de alegria e reconhecimento para ele, que tem apresentado ganhos na vida pessoal com a inserção da arte. “Ele melhorou muito a concentração, a autoestima e a comunicação. Ele demonstra felicidade quando reconhece o trabalho concluído”, conta a mãe do garoto.

Maria Gorete e Matheus. Foto: Chrisley Wellen.

Um dos frutos do projeto Artes Visuais & Inclusão foi a inserção de Aaron, de 19 anos, no mercado de trabalho, ele conseguiu um estágio como mediador do público na Pinacoteca UFPB – equipamento cultural que promove a divulgação da arte paraibana – que já foi finalizado.

Outros amantes da arte

Em 2015, o projeto Artes visuais & inclusão foi desenvolvido na Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (Funad) pelas estudantes Viviane Coutinho e Patrícia de Oliveira. Lá foram selecionados alguns participantes para trabalhar com pintura. ''Os participantes produziam muito rápido. Começavam e terminavam uma pintura na mesma aula”, afirma Viviane. As obras que mais se destacaram fizeram parte da Arte Eficiente, a primeira exposição do projeto, realizada
em 2016.

O projeto está sendo desenvolvido também na Vila Vicentina pelas voluntárias Rosangela Xavier, Shirley Tange e Jacqueline Carolino. Toda semana elas reúnem um grupo de idosos para trabalharem com as artes visuais. Eles desenham, pintam e fazem colagens. Segundo Rosângela, quando chega o dia da aula de artes, os idosos esperam ansiosamente em suas cadeiras perguntando se já é dia de pintar. “Eles tiveram uma melhora na saúde mental depois de começarem a frequentar o projeto, pois ocupam a mente, ficam concentrados, param de se preocupar com suas doenças, dores e seus problemas”, afirma. As obras que se destacaram também integraram a primeira exposição do projeto.

Uma grande família

O projeto Artes Visuais & Inclusão é desenvolvido por uma equipe treinada e dedicada. Além do coordenador Robson Xavier, a equipe é composta pelos bolsistas Aislan Douglas e Natália Araújo; os voluntários Viviane Coutinho, Graça Capela, Rosângela Xavier, Jacqueline Carolino, Shirley Tanure e Márcio Soares, que já foi professor de inglês de jovens da Ame Down em escolas regulares e também participa do projeto.

Avanços na sociabilidade entre os jovens e a equipe do projeto são percebidos gradualmente. O voluntário Márcio Soares conta como tem sido a relação entre eles. Ouça:



Robson detalha como vem sendo a evolução dos jovens e como vem sendo a interação entre os garotos e garotas. Ouça:

Outra coisa que Robson ressalta é a relação dos pais com o projeto, pois no início alguns achavam que seria um trabalho de oficina de artes convencional com pintura de flores, decoração de pano de prato. “Em algumas reuniões eu precisei dar algumas palestras para mostrar que essa não era a nossa intenção. Eu acredito que após a primeira exposição eles começaram a entender e a relação deles com o trabalho mudou”, relata. Pinturas, desenhos, colagens. Os trabalhos produzidos pelos jovens podem servir como material para arrecadar recursos para a Ame Down. Esse potencial de economia criativa é enxergado pelo professor Robson Xavier.



E mais uma vez, o reconhecimento

No dia 24 de novembro acontecerá a segunda exposição do projeto no Centro Cultural Ariano Suassuna, no Tibunal de Contas do Estado, em Jaguaribe. Serão expostos trabalhos de pinturas, desenhos e colagens em vários suportes. Foi feita uma seleção dos melhores trabalhos feitos pelos participantes da Ame Down, do Instituto dos Cegos e da Vila Vicentina no ano de 2017. A abertura da exposição será em torno das 18h e 19 horas, segundo o coordenador do projeto.

Robson destacou a importância de projetos que unam artes e inclusão, tendo em vista que não há muitos no Estado da Paraíba. Para ele, quanto mais pessoas conhecerem o trabalho melhor, pois quando os jovens veem os seus trabalhos expostos e recebem o reconhecimento das pessoas eles se sentem verdadeiros artistas, que estão expondo suas obras em um espaço importante onde outros artistas já expuseram. “Isso é fundamental, porque eles voltam renovados para a oficina de artes, voltam querendo fazer mais coisas”, conta.

Telas, tintas, ação!

Nas oficinas promovidas pelo projeto, os jovens da Ame Down exploram a pintura e com isso veem o mundo por outra perspectiva, muito mais colorida que antes. Através das telas e tintas, eles despertam o artista que está em cada um, interagem com os colegas, aumentam a autoestima e se redescobrem.


Comentários

  1. Excelente projeto da Ame Down. Parabéns ao grupo por abordar essa temática!

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